Há uma maior articulação entre institutos de vulcanologia da Macaronésia. Fátima Viveiros, do IVAR, salienta, ainda assim, a importância de a região ter equipamentos próprios e recursos humanos qualificados.
O PROJETO VOLRISKMAC II, FINANCIADO PELO PROGRAMA INTERREG MACARONÉSIA, ENTRE 2020 E 2022, TINHA COMO OBJETIVO MELHORAR AS CAPACIDADES DE MONITORIZAÇÃO E DE RESPOSTA DA ATIVIDADE VULCÂNICA NAS ILHAS DA MACAROÉSIA. QUE TRABALHO FOI DESENVOLVIDO NESSE PERÍODO? TERÁ CONTINUAÇÃO?
O projeto VOLRISKMAC II (INTERREG MAC) foi alvo de uma prorrogação, essencialmente devido à pandemia de covid-19, e ainda se encontra em curso. No caso dos Açores, as instituições envolvidas são a Universidade dos Açores, através do IVAR – Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos e o CIVISA – Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores. Como entidades responsáveis pela monitorização sismovulcânica do arquipélago, durante o projeto têm sido desenvolvidas atividades para garantir a monitorização dos vários sistemas vulcânicos ativos dos Açores, integrando técnicas quer geofísicas (sismicidade, deformação crustal), quer geoquímicas. Os trabalhos desenvolvidos recorrem não só aos equipamentos instalados de forma permanente nos vulcões, mas também a campanhas de monitorização regulares. A definição de boas práticas em termos de estratégias de vigilância vulcânica extensiva aos diferentes arquipélagos da Macaronésia constitui um dos objetivos do projeto. Adicionalmente, uma estratégia de mitigação de riscos é a realização de simulacros que permitam testar a capacidade de resposta das várias instituições não só científicas, mas também em articulação com as autoridades de proteção civil. O IVAR e o CIVISA promoveram um simulacro em 2021 que permitiu aferir procedimentos, e que foi importante para a resposta durante a crise sismovulcânica em curso na ilha de São Jorge desde março de 2022.
HÁ HOJE UMA MAIOR ARTICULAÇÃO ENTRE OS INSTITUTOS DE VULCANOLOGIA DOS DIFERENTES ARQUIPÉLAGOS? ESTÃO MAIS BEM PREPARADOS PARA ENFRENTAR UM CENÁRIO DE ERUPÇÃO VULCÂNICA?
A implementação de projetos de colaboração e a possibilidade de partilha de conhecimentos resulta, claramente, numa maior articulação entre as instituições envolvidas. O projeto VOLRISKMAC II, que constitui uma linha de continuidade do anterior VOLRISKMAC I, tem permitido fortalecer relações quer com o Instituto Volcanológico de Canarias (INVOLCAN), quer com a Universidade de Cabo Verde e com o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza da Região Autónoma da Madeira. A possibilidade de técnicos do IVAR e do CIVISA colaborarem com o INVOLCAN durante a erupção vulcânica de La
Palma no final de 2021 foi uma excelente oportunidade não só para partilhar metodologias e fomentar a capacidade de reposta durante a crise vulcânica, mas também permitiu aos investigadores açorianos adquirir experiência e know-how em cenários eruptivos, felizmente pouco frequentes nos Açores. De facto, estes fenómenos de baixa frequência, mas alto impacto, têm necessariamente que ser monitorizados em permanência. A concretização das parcerias e partilha de conhecimento resultará, inclusivamente, na realização de um curso de formação em Cabo Verde durante o mês de
março e que contará com investigadores das diferentes instituições. Neste caso pretende-se contribuir para a formação de técnicos especializados em Cabo Verde, onde a última erupção vulcânica ocorreu na ilha do Fogo em 2014-2015.
A CRISE SISMOVULCÂNICA EM SÃO JORGE, QUE DECORRE DESDE MARÇO DE 2022, FOI UMA OPORTUNIDADE PARA COLOCAR EM PRÁTICA A COLABORAÇÃO ENTRE OS INVESTIGADORES DOS DIFERENTES ARQUIPÉLAGOS? QUE IMPORTÂNCIA TEVE ESTA PARCERIA?
No decorrer da crise sismovulcânica em São Jorge, o INVOLCAN colaborou com o IVAR e com o CIVISA em abril de 2022, nomeadamente ao realizar medições de gases no solo que complementaram as medições levadas a cabo pelos investigadores açorianos desde o dia 20 de março. Adicionalmente, os técnicos do INVOLCAN deram formação aos elementos do IVAR e do CIVISA no sentido de usarem um equipamento que permite efetuar medições de dióxido de enxofre, principal gás emitido durante erupções vulcânicas. As parcerias desenvolvidas permitiram, assim, que as relações estabelecidas estivessem alinhadas e estruturadas, o que facilita todas as dinâmicas associadas à gestão de uma crise.
PARA ALÉM DA PARTILHA DE CONHECIMENTOS ENTRE INVESTIGADORES, ESTES ARQUIPÉLAGOS PODEM TAMBÉM COLABORAR COM A PARTILHA DE EQUIPAMENTOS. ISSO JÁ ACONTECEU NOS AÇORES?
A partilha de equipamentos entre as diferentes equipas envolvidas no projeto tem sido um aspeto relevante do projeto. De facto, durante a crise em curso na ilha de São Jorge o INVOLCAN disponibilizou ao IVAR um equipamento portátil de medição de dióxido de enxofre de forma a que se pudesse dar uma reposta local em caso de evento eruptivo. Desde novembro de 2022, o IVAR e o CIVISA já dispõem de equipamento semelhante. Gostaria de destacar que a recente pandemia de covid-19 veio mais uma vez demonstrar a relevância de que as instituições arquipelágicas possuam capacidade de resposta local durante fenómenos eruptivos, pois em algumas circunstâncias o auxílio externo pode inclusivamente ser impossibilitado. Nesta medida, a Universidade dos Açores através do IVAR, e da relação com o CIVISA, tem efetuado diligências para que os Açores possuam recursos humanos qualificados e instrumentação adequada para este tipo de crises vulcânicas. Este é, contudo, um desafio constante que não se coaduna com interregnos de financiamento. No que diz respeito a equipamentos, refere-se ainda que o IVAR instalou instrumentação para medição de gases vulcânicos e partículas durante a erupção de La Palma de forma a contribuir para a monitorização da qualidade do ar. A experiência do IVAR e do CIVISA com sistemas de monitorização de dióxido de carbono, como é o caso do equipamento instalado na Furna do Enxofre (Graciosa) desde dezembro de 2002, tem permitido auxiliar o INVOLCAN a definir níveis de alerta e alarme, assim como a desenvolver medidas preventivas.
https://v2.volriskmac.com/wp-content/uploads/2023/01/20230124-DiarioInsular_article.pdf
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